Atuação do Psicólogo

ENTREVISTADA: Maria de Fátima Novaes Marinho

Fale sobre sua atividade como psicóloga

Eu trabalho na área clínica, eu realizo psicoterapia de casal, psicoterapia de grupo, psicoterapia individual. A abordagem que utilizo é o Psicodrama. O Psicodrama é minha ferramenta de trabalho, tanto em termos teóricos como em termos práticos. O Psicodrama trabalha com representações, com cenas. As situações trazidas pelo paciente e representadas constituem cenas conflitivas, angustiantes. Tem que ser algo que seja importante para o paciente aprofundar mais. Pode ser uma cena atual, briguei com meu chefe, não consigo me entender com meu marido ou uma cena do passado, historias marcantes com pai, mãe, irmãos, e onde se procura uma resolução de conflitos. As técnicas do psicodrama possibilitam que a pessoa se perceba melhor, descubra novas soluções para as situações vividas.

Em sua opinião, quais são as condições necessárias para realização do seu trabalho?

 Eu considero duas coisas essenciais: a autonomia e a responsabilidade. Quando o psicólogo se forma e começa a atender é necessária bastante supervisão, pois existe uma série de situações com as quais ele ainda não sabe lidar. É muita supervisão, muitos grupos de estudo. Com o tempo, o psicólogo vai desenvolvendo um jeito próprio de trabalhar, mas tem que ser sempre um jeito responsável de trabalhar, uma responsabilidade pelo seu trabalho e pelo paciente. Isto não quer dizer uma onipotência. O psicólogo não tem domínio de tudo, mas tem a possibilidade de fazer um trabalho de boa qualidade. Assim como o medico não tem domínio de tudo se ele está atendendo um paciente, ele pode fazer o melhor e o paciente pode morrer. Temos sempre que fazer o melhor.

Você se considera realizada com o seu trabalho ?

Sim, estou satisfeita porque  vejo os resultados do meu trabalho. Percebo a melhora dos pacientes e isto é muito gratificante. Sinto falta de escrever um pouco mais, coisa que eu fazia mais quando eu atuava no meio acadêmico. Mas eu gosto muito do trabalho clínico. Sei que é isso que me realiza profissionalmente.

Como se caracteriza a clientela atendida por você em relação à faixa etária, sexo, classe social, escolaridade e profissão?

Faixa etária? Dos 20 até os 70 anos. Eu tenho a predominância de pacientes entre 30 e 40 anos. Tenho alguns mais jovens e alguns mais idosos. Sexo: aproximadamente 50% . Classe social: predominância é de classe média, tem média alta e também alguns com poder aquisitivo mais baixo. Escolaridade: a predominância é de nível superior. Profissão: é bem variado (enfermeiro, médico, analista de sistemas, atendente de telemarketing, psicólogo, engenheiro, etc.)

De que maneira os pacientes chegam até você?

Encaminhadas ou indicadas por pacientes que já fizeram terapia comigo, encaminhadas por médicos, psicólogos e outros profissionais. Eu trabalho bastante com pacientes que sofreram sequelas de acidente de carro, sequelas por doença. Então essa pessoa tem uma mudança na vida, tem perdas, tem que se reestruturar,  precisa pensar como ela faz dali para frente porque ela passou a mancar, porque ela não enxerga mais e uma série de questões. Essa é uma área com que eu já trabalho há bastante tempo e há médicos que encaminham pacientes.

Na sua opinião, qual a imagem que a população tem do psicólogo  hoje?

Hoje, a população busca mais o atendimento psicológico. Eu percebo que existe menos preconceito com a área clínica. Antes, as pessoas tinham mais vergonha de buscar ajuda, achavam que buscar um psicólogo significava que estavam loucas ou que eram dependentes, incapazes de resolver seus problemas sozinhas. Hoje, o preconceito é bem menor do que há 10, 15 anos. Antes, muitos escondiam dos amigos que faziam terapia, enquanto hoje é comum as pessoas compartilharem suas experiências. Atualmente, tenho me deparado mais com o preconceito em relação aos psiquiatras. Quando encaminho pacientes, percebo uma resistência muito grande em relação ao psiquiatra e à medicação. Eles alegam que vão ficar dependentes, que a medicação faz mal ou ainda que, se tomarem medicação, não vão resolver seus problemas emocionais. Esse preconceito eu acho que ainda é maior do que com o psicólogo.

Que  contribuições  você acredita que o psicólogo tem dado à sociedade ?

Contribuições? São muitas! (risos). Eu estou falando mais do trabalho clínico que hoje é a minha área de atuação, mas, na realidade, eu acho que a psicologia está crescendo muito na área social, educacional e em outras áreas. Eu considero uma contribuição muito importante o psicólogo estar nas escolas. Eu trabalhei na Secretaria da Criança durante cinco anos com meninos de rua e eu acho que nessa área social o olhar do psicólogo é muito importante, só que deveria ser mais bem remunerado .

Quais são os requisitos necessários para a formação do psicólogo? Seu curso de formação atendeu a esses requisitos?

É, se atender a requisitos significa estar pronto como profissional, acho que não e nem acho que seja por aí. Se requisitos significar dar uma base para entender a psicologia, conhecimentos gerais nas práticas e nas técnicas e principalmente uma formação ética, que é essencial, então, atendeu. Agora, depois que a gente conclui a faculdade, há um investimento grande, pois ainda temos que complementar  com supervisão, com especialização, mestrado e outros cursos, que vão aprofundando a formação. Considero que meu curso de graduação em psicologia de maneira geral foi bom. Há apenas uma disciplina que eu avalio que foi bastante deficitária, a Psicopatologia, mas eu supri essa defasagem por meio  de cursos e supervisões após a faculdade.

Qual a situação atual do mercado de trabalho na sua área?

Acho que há muitos psicólogos se formando e não vai haver mercado para todos eles. Eu não estou querendo desanimar ninguém. Sempre me preocupei com isso como professora, mas a responsabilidade é das faculdades, que abrem muito mais vagas do que o mercado comporta. Outro ponto importante é  a remuneração, que para área social é muito baixa.

E no futuro, como você imagina que estará o mercado de trabalho?

 Não sei! Eu acho que na área clínica, há a questão dos convênios, eu atendo pacientes que têm o reembolso. Eu não atendo convênios diretamente, pois o valor é muito baixo. Acho que existe uma tendência do atendimento psicológico ser incorporado pelos convênios, do mesmo modo que ocorreu com os médicos.

 Como foi sua entrada no mercado de trabalho? Conte um pouco de sua trajetória profissional.

Eu me formei com 22 anos. Eu acabei de me formar e montei consultório direto. Comecei a atender, fiquei um ano só no consultório. Depois, comecei a trabalhar na Secretaria da Criança e a noite atendia no consultório. Comecei a fazer especialização em Psicodrama. Trabalhei durante cinco anos na Secretaria. Depois participei de uma seleção na “UNIP”. Eu enviei currículo para inúmeras faculdades e as pessoas diziam na época que isso não dava resultado, que você tinha que ter alguém conhecido dentro da faculdade para você conseguir (risos). Eu tinha vontade de lecionar. Participei da seleção, passei em uma etapa, passei em outra e acabei entrando para dar aula de “Teorias Técnicas Psicoterápicas”. Eu não imaginava que eu ia conseguir. Eu tinha uma certa experiência clínica, mais ainda pequena. Tinha uma boa formação, que eu estudava bastante, e aí comecei a dar aulas em 1993 e então entrei no mestrado. Eu fiz o mestrado, fui dando aula e atendendo no consultório. Foi um conjunto, foi aí que eu fui crescendo profissionalmente. Depois fui lecionar no Curso de Psicologia da Faculdade de Guarulhos até o momento em que optei por ficar só no consultório, há cerca  de oito anos.

Com que frequência você realiza as sessões?

Eu trabalho, inicialmente, sempre com o esquema de pelo menos uma vez por semana. Eu acho um ritmo bom e, em algumas situações, que são poucas, duas vezes por semana. No início do processo, eu nunca trabalho de quinze em quinze dias, o contato fica muito distante e  não se consegue acompanhar bem o processo. Depois, num momento mais adiantado do processo psicoterápico, pode ser muito rico e interessante  propor a sessão de quinze em quinze dias. No término da terapia, eu faço junto com o paciente uma reavaliação, um fechamento de todo o processo terapêutico.

Você trabalha com outros profissionais?

Na hora que eu atendo, eu atendo sozinha. Psicoterapia de grupo, às vezes, atendo em co-terapia. Agora, eu estou sempre trocando informações com outros profissionais da área, o que enriquece bastante o meu trabalho. Mas, em termos do atendimento em si, normalmente eu digo que o trabalho do psicólogo clínico em consultório é bastante solitário. Eu dei aula em faculdade durante muitos anos e a troca com alunos e professores era muito intensa, você vê mais gente, já no consultório, você acaba ficando mais fechado.

Ccomo é o seu local de trabalho?

É uma sala de consultório, tem duas poltronas. O paciente e o terapeuta ficam um de frente para o outro. Em terapia de casal, a gente vira as poltronas na direção do terapeuta que sou eu. Tem muitas almofadas, que são instrumentos de trabalho no Psicodrama. Elas podem virar inúmeros personagens. Tenho também dois banquinhos que servem para cena com dois personagens, um de frente para o outro.